Em diversas oportunidades, quando
fizemos palestra sobre a questão da Reencarnação e Aborto, fomos questionados
posteriormente sobre a dolorosa e delicada circunstância do estupro.
Principalmente ao se propiciar perguntas nos serem dirigidas por escrito, este
aspecto sempre era levantado.
Embora o tema seja
potencialmente desagradável, não há como ignorá-lo no contexto de nossa
situação planetária.
A grande discussão que se levanta é a legitimidade ou não, do aborto,
quando a gravidez é consequente a um ato de violência física.
Mais uma vez, nos posicionamos em relação ao aspecto legal da questão
nos abstendo de maiores comentários, pois leis e constituições os povos já as
tiveram inúmeras e tantas outras terão.
Nossa abordagem será pelo ângulo transcendental e reencarnacionista e
considerando que são três (3) espíritos, no mínimo, envolvidos na tragédia em
questão.
Também, quanto ao aspecto da ética médica, à qual estamos submetidos por
força da profissão que nesta encarnação exercemos, lembramos ser esta ética
diferente em cada país do planeta. Numa escala de zero a 10, teremos todas as
notas, conforme a nação e o continente que nos detivermos em nossa aldeia
global.
Inicialmente também, cumpre-nos esclarecer que o livre arbítrio é o
maior patrimônio que nos, espíritos humanos, temos alcançado ao adentrarmos
nesta faixa evolutiva pensante. Livre arbítrio que não legitima atitudes, mas
oportuniza às criaturas decidir e se responsabilizar pelas consequências de
seus atos posteriores.
Outra premissa que deveremos estabelecer é aquela da maior ou menor repercussão dos atos perante a Lei Universal, em função do nível de esclarecimento que possuímos.
Importante também salientar que não há atos perversos que tenham sido
planejados pela espiritualidade superior. Seria de uma miopia intelectual sem
limites, a ideia de que alguém deve reencarnar a fim de ser estuprado. A
concepção do Deus punitivo e vingativo já não cabe mais no dicionário dos
religiosos esclarecidos sobre a vida espiritual. Deus é uma fonte inesgotável
de amor. É a Lei maior que a tudo preside. Lei coordenadora das leis naturais.
Como conceber a violência física? Como enquadrar a onipresença divina em
todas as situações e sofrimentos com que convivemos? Deus estaria ausente
nestas circunstâncias? Ou estaria presente? Para muitos indivíduos, se
estivesse presente já seria motivo para não crer na sua existência ou na sua
infinita bondade e onisciência.
Quem é a vítima?
Cada um de nós ao reencarnar trouxe todo o seu passado impresso indelevelmente
em si mesmo. Já nos referimos aos núcleos energéticos que trazemos em nosso
inconsciente pretérito. Espíritos que somos e pelas inúmeras viagens que
percorremos, representadas pelas múltiplas vidas, possuímos no nosso passaporte
inúmeros carimbos das pousadas onde estagiamos no passado. Hoje a somatória
destas experiências se traduz em manancial energético que irradia
constantemente do nosso interior para a superfície.
Assim é também a vítima?
A jovem que hoje se apresenta de forma diferente, traz em seu passado
profundas marcas de atitudes prejudiciais a irmãos seus. Atitudes de
desequilíbrio que são gravadas em si mesmas. Algumas delas participaram
intelectualmente de verdadeiras emboscadas, visando atingir de maneira dolorosa
a intimidade sexual de criaturas. Outras foram executoras diretas, pela
autoridade de que eram investidas, de crimes nesta área. Enfim, são múltiplas
as situações geradoras da desarmonia energética que agora pulsa constantemente
nos arquivos vibratórios da nossa personagem em questão.
Pela lei universal da sintonia de vibrações, embora aparentemente a
vestidura cândida da moça não traduza os arquivos do passado, poderá em dado
momento ser atraída por uma circunstância similar àquela que perpetrou em
outras eras.
É claro que o trabalho constante da família em termos de educação e
amor, e o esforço pessoal da criatura, somando ao incansável labor dos
protetores espirituais, poderá afastar a situação a que se sujeita. Não existe
fatalidade. Existe apenas a tendência ou predisposição, a qual sempre estará
dependendo da maior ou menor facilitação dos envolvidos no processo.
Lembramos também que os familiares que sofrerão em diferentes graus as
repercussões do crime em foco, são agora novos personagens do teatro da vida,
mas encenaram juntos a uma mesma peça do passado.
O agressor, que muitas vezes surpreende pela escolha menos estética da
vítima, na realidade, em seu desequilíbrio patológico, entrou em sintonia com a
vítima de hoje devido nela existir algo que tem ressonância com sua enfermidade
psíquica.
A lei da gravidade existe. Não é boa nem má. Simplesmente existe. Se
jogarmos uma pedra para o alto e ficarmos aguardando seu impacto sob a linha de
queda, fatalmente seremos atingidos. Não se trata de punição divina, a lei da
gravidade é uma lei universal que cumpre automaticamente sua função. O mesmo
ocorre com a lei de ação e reação, e a lei de sintonia energética.
Se já tivermos jogado a pedra para o alto, só nos resta abrir o
guarda-chuva da caridade e da postura ética para reduzirmos o impacto da
energia que movimentamos no passado.
No entanto, no assunto ora ventilado, a violência ocorreu e a gestação
se apresentou como surpresa desagradável. Como orientar a vítima?
Identificados os dois protagonistas da gestação, falemos acerca da
entidade reencarnante.
Em certas ocasiões, o ser que mergulha na carne nesta dolorosa
circunstância é alguém que vibra na mesma faixa de desequilíbrio. Um espírito
que pelo ódio se imantava magneticamente à aura da jovem de hoje pedindo-lhe
contas pelos sofrimentos que no passado ela lhe causara, se vê preso às malha
as energéticas do organismo biológico que se forma. O processo obsessivo que
vinha desenvolvendo já o fixara perifericamente à trama perispiritual materna e
agora definitivamente adere ao vaso físico.
Apesar do momento cruel, a Lei maior aproveita para retirar o
perseguidor e adormece-lo. Acordará talvez embalado pelos braços de sua antiga
algoz que aprenderá a perdoar e até amar em função do esquecimento do
pretérito.
Lembramos novamente, não foi em hipótese alguma programado o estupro,
nem ele em circunstâncias quaisquer se justificaria. No entanto o crime
existindo, a espiritualidade sempre fará o máximo para do mal ser possível
resultar algum bem.
Mas, muitas vezes a gestante pressionada pelos vínculos familiares opta
por interromper a gravidez indesejada.
Muitos de nós que falamos sobre o aborto ou até aqueles que preconizam
este ato, jamais tiveram o ensejo de assistir a execução do mesmo. Em muitos
países, em que a legislação permite até o 5º ou 6º mês de desenvolvimento
fetal, ou ainda mais além nos casos de estupro, observa-se um quadro tétrico.
Fragmentos de braços e pernas, mãos delicadas e dedinhos ensanguentados
são jogados nos baldes frios da indiferença humana. Fetos às vezes retirados
inteiros por cesariana são colocados sobre bandejas onde pela imaturidade
pulmonar respiram irregularmente até morrer.
Somos contrários a teatralidade, e a estes recursos chocantes que se
exigem em filmes e slides para ferir a sensibilidade das pessoas. A falta de
argumento e conhecimento espiritual do processo que se desencadeia, é que faz
lançar mão destes métodos agressivos de exposição. A visão espiritual da
situação pode dispensar estes recursos de que se servem as correntes religiosas
por desconhecerem a pré-existência da alma.
O espírito submetido à violência do aborto sofre intensamente no
processo, conforme o seu grau de maturidade espiritual.
Perante a lei divina sabemos que o espírito reencarnado não deve receber
a agressão arbitrária em face da violência cometida por outro. Violência que
gera violência, um ciclo triste que necessita ser rompido com um ato de amor a
um entezinho que muitas vezes aspira por uma oportunidade de evolução.
O aborto provocado gera muitas vezes profundos traumas em todos os
envolvidos que exacerbam a dolorosa situação cármica da constelação familiar.
Ninguém é mãe ou filho de outrem por casualidade, há sempre um mecanismo
sábio da lei que visa corrigir ou atenuar sofrimentos.
Há, também, espíritos afins e benfeitores que visando amparar a futura
mãe, optam pelo reencarne na situação surgida.
A vítima do estupro, poderá ter ao seu lado toda a luz de alguém que
poderá vir a ser o seu arrimo e seu consolo na velhice. Irmãos cheios de
ternura em seu coração, com projetos de dedicação e amparo, aproveitam o
momento criado pelo crime para dar diretamente na vida material todo o seu
trabalho para aquela que amam. Renascem como seu filho.
A eliminação da gravidez, através do aborto provocado nestes casos, irá
anular este laborioso auxílio que o espírito protetor lamentará ter perdido.
Pelo exposto, a interrupção da gestação mesmo decorrente de violência, é
sempre uma atitude arbitrária e que só ampliará o sofrimento dos familiares. Se
a jovem for emocionalmente incapaz de atender aos requisitos da maternidade, a
adoção, preferencialmente por pessoas de vínculos próximos, deverá ser o
remédio indicado. Se não houver possibilidades, psiquicamente aceitáveis, de
recepção por parte dos familiares, encaminhe-se os trâmites da adoção para quem
receberá aquela criatura com o amor necessário ao seu processo redentor e
educativo.
O
tempo se encarregará de cicatrizar os ferimentos da alma.
BERNARDI, Ricardo
Di. Gestação: Sublime Intercâmbio. InteLítera Editora. 26.
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